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PAIS
DEVEM ESTUDAR COM OS FILHOS?
Lembro
como hoje, faz 25 anos! O dia que minha vizinha tocou a campainha em casa
para pedir o lápis de cor 059, 043, 013 e 056 da Faber Castell
de meu filho. Nem sabia que os lápis tinham números e fui
ao seu estojo procurar. Como eu demorava, ela se apressou a me ajudar
percebendo minha dificuldade.
Olhou o estojo e tirou um a um sem hesitação: “o cor
de pele, azul do céu, laranja-ferrugem, verde-folha, etc”.
Ela tinha tanta intimidade com as cores que fiquei constrangida com minha
ignorância. Disse a ela: “no meu tempo, os lápis não
tinham números, nem tantos tons” e ela me respondeu: “no
meu também!”. Só então percebi que o problema
não estava comigo e arrisquei: “como você aprendeu
tudo isto?” e ela: “a escola do meu filho é muito puxada
e desde o Jardim 1, eles mandam desenho pra colorir e eu tive que achar
as cores certas para ele colorir... “às vezes ele não
quer fazer, e eu mesma pinto pra ele não ir pra escola sem lição
feita, né?”E eu na minha ingenuidade de mãe-que-não-pinta-o-desenho-do-filho,
perguntei: “E a professora não percebe?”“, ela
riu e disse: “às vezes, porque ela dá nota baixa quando
ele pinta, e quando eu faço – é só elogio!”.
Não acredito que esta estória mudou muito apesar dos sistemas
educacionais terem mudado tanto em 25 anos. Porque vejo mães fazendo
lição, estudando pra prova, fazendo pesquisa, arrumando
o material da escola até hoje. Pelo mesmo motivo: o filho não
quer fazer, e quando ela faz sempre fica melhor.
Quando eles entram no Ensino Fundamental e Médio os pais são
chamados para resolver questões de indisciplina, de aprendizagem,
levam a médicos, dão remédios para melhorar a atenção,
a concentração, o comportamento, contratam professores particulares
para estudar com o filho, dão prêmios e castigos por notas
altas ou por simplesmente freqüentarem as aulas.
Estes jovens estão cada vez mais infantilizados e nem sequer se
envergonham disso, ao contrario, cobram dos pais que eles resolvam os
problemas que eles mesmos criam. Dormem tarde, não conseguem acordar
cedo, comem só o que gostam, mandam os pais ir a escola reclamar
dos trabalhos, muita lição, professores que não são
“camaradas” e cobram comportamentos incoerentes em sala de
aula, afinal, não são seus pais, chegam até a fazer
campanhas e abaixo-assinados para tirar os professores que não
lhes agradam.
E se você pensa que isto acaba com a entrada na faculdade, estão
enganados: os pais providenciam a matricula, resolvem os problemas com
a secretaria, entram no e-mail do aluno para negociar prazo de trabalhos
com os professores e chegam até a ser chamados pelas faculdades
para reuniões e recebem boletim de freqüência e avaliação
do filho para confrontar as queixas no rendimento e reprovações.
Quando chega à hora de apresentar o TCC, pagam a alguém
para fazer, pois são incapazes de apresentar algo consistente que
seja aprovado. E tudo isto acontece com a conivência e concordância
dos pais que pagam por tudo isso.
O que esperar destes jovens-profissionais? Jovens-pais? Jovens-cidadãos?
De que adianta lousa-digital, laptop para alunos, salas informatizadas
e uso da internet se a relação entre escola-pais-alunos,
continua no passado?
Talvez uma boa parceria da família com a escola pudesse ser a de
que ambas conseguissem ensinar aos filhos e alunos que o compromisso escolar
é deles, e apenas deles.
Escrito por Magali Hemzo
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