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QUE SÃO ESTAS FORMULA MILAGROSAS PARA EMAGRECER
Fórmulas para emagrecer constituem exemplos didáticos de
polifarmácia. A fórmula típica contém de cinco
a 15 componentes: uma substância “tipo-anfetamina” (femproporex
e dietilpropiona são as mais empregadas), tranquilizantes benzodiazepínicos
(geralmente diazepan ou clordiazepóxido), agentes tireoidianos
(triiodotironina, tetraiodotironina, triac, triatec), diuréticos
(furosemida, hidroclortiazida etc.), agentes gastrointestinais (cimetidina,
fenolftaleína, dimeticona etc.), uma variedade de produtos vegetais
(cáscara sagrada, cavalinha, Fucus vesiculosus e outros representantes
da exuberante biodiversidade brasileira), antidepressivos como a fluoxetina
e a sertralina, vitaminas, cloreto de potássio, propanolol e o
que mais a imaginação for capaz de criar.
Drogas do “tipo-anfetamina” como o femproporex e a dietilpropiona
agem no sistema nervoso central provocando diminuição do
apetite. Mas, ao lado do efeito anorexígeno, provocam agitação
psicomotora, insônia, irritação, nervosismo, ansiedade,
tremores, excitação, boca seca, gosto metálico, náuseas,
alterações do hábito intestinal. Para combatê-los,
a fórmula contém os tranquilizantes diazepínicos,
laxantes, antidepressivos, antiácidos, etc.
Outra peculiaridade dessas prescrições é a generosidade
com que são incluídos hormônios tireoidianos sem qualquer
indicação clínica ou laboratorial, só sob
o pretexto ridículo de fazer trabalhar “tireoides preguiçosas”.
Doses maciças desses hormônios, como as utilizadas em tais
ocasiões, conduzem ao hipertireoidismo, doença em que alguns
dos sintomas se somam e se confundem com os efeitos indesejáveis
dos anorexígenos (agitação, irritabilidade, tremores,
taquicardia, alterações intestinais), além de causar
perda de massa muscular, osteoporose e queda de cabelo, entre outros inconvenientes.
O trágico é que os incautos compradores dessas cápsulas
pela internet ou diretamente dos traficantes não têm a menor
ideia das drogas nelas contidas: não existe prescrição
nem bula, e os rótulos trazem nomes fantasiosos como “Emagrecedor
Número 2 ou “Emagrecedor Natural”.Nem por isso os clientes
que recebem prescrições das mãos dos médicos
ficam em situação mais confortável.
Estudo conduzido pela doutora Solange Nappo (Cebrid – Unifesp) e
por colaboradores da USP mostrou que, em 107 consultas com prescrição
de fórmulas, apenas um médico falou da existência
de efeitos colaterais, somente cinco advertiram para não aumentar
doses prescritas, e sete, para evitar gravidez. Nenhum deles sequer mencionou
que anfetaminas e barbitúricos causam dependência química.
Já em 1983, um boletim da Organização Mundial da
Saúde advertia: “A indução de dependência
por barbitúricos está claramente demonstrada (…) Essas
drogas devem ser reservadas para pacientes que sofrem de ansiedade clínica
bem definida”. Bastam três meses de uso (às vezes,
menos) para que sejam criadas dependência química e síndrome
de abstinência à retirada abrupta.
Em relação às drogas do “tipo-anfetamina”,
a dependência leva à tolerância e, consequentemente,
ao aumento de doses por conta própria. Aí reside o perigo
maior: ao dobrar ou triplicar o número de cápsulas diárias,
o usuário duplicará ou triplicará as doses de hormônio
tireoidiano, diurético, benzodiazepínico, antidepressivo,
laxante e o diabo que houver, correndo o risco de perder a vida. Por essa
razão, a Anvisa proibiu a prescrição de anorexígenos
como parte de formulações magistrais.
Mas o que fazem aqueles interessados em burlar a lei? Prescrevem o anorexígeno
separadamente e todos os demais componentes numa mesma fórmula;
depois, mandam tomar uma cápsula de cada um, duas vezes ao dia.
O que faz a fama de determinada fórmula é o fato de os incautos
suporem que a composição foi criteriosamente dosada para
seus casos e de conhecerem alguém que perdeu peso ao tomá-la.
De fato, há pessoas que emagrecem até dez quilos no primeiro
mês de tratamento, mas, daí em diante, a perda fica progressivamente
lenta, até que o ponteiro da balança para de se mover e
retoma a caminhada inexorável para o alto.
Com a autoestima rebaixada e achacados por uma constelação
de efeitos colaterais, os usuários, então, interrompem o
tratamento e entram em crise de abstinência pela falta da anfetamina
e do benzodiazepínico: sonolência, apatia, fraqueza, depressão,
falta de memória, ideação suicida. A esses sintomas
acrescentam-se os do hipotireoidismo, porque a tireoide previamente bombardeada
pelas doses excessivas de hormônio declara greve por tempo indeterminado.
Derrotados em seu propósito de perder peso, os ex-usuários
recuperarão num instante os quilos perdidos e ganharão outros
mais até ouvirem falar na próxima fórmula milagrosa.
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