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PADRÃO
DE CONSUMO
Há pessoas que bebem quantidades menores e devagar saboreando
a bebida, enquanto outras viram o copo de uma só vez, mais interessadas
no efeito do álcool no organismo. Essas têm mais tendência
a desenvolver alcoolismo. O alcoolismo está fundamentalmente
associado à ação farmacológica do álcool
no cérebro. Quanto mais rápida for essa ação,
maior a possibilidade de o efeito poderoso e reforçador do álcool
desenvolver uma série de mudanças químicas no cérebro
que produzirão a dependência.
Isso vale para todas as drogas. Quanto mais rápida a absorção,
maior o potencial de gerar dependência. Veja o exemplo do crack
e da cocaína. O crack nada mais é do que pedras de cocaína
fumadas num cachimbo. Como a fumaça em segundos atinge o cérebro,
o crack causa muito mais dependência do que a cocaína consumida
por via nasal.
A mesma coisa acontece com o álcool. Se a pessoa beber um destilado
de uma só vez, a absorção é rápida
assim como é rápido o efeito, e o potencial desse padrão
de consumo gerar dependência é muitas vezes maior do que
o dos degustadores de vinho, que fazem do beber sua profissão,
já que experimentam o vinho, analisam sua complexidade e jogam
fora o álcool para evitar intoxicação. Por isso,
o padrão de consumo de uma substância, às vezes, é
mais importante do que a própria substância para provocar
dependência.
Os alcoólicos preferem destilados a qualquer outro tipo
de bebida porque a medida que a pessoa vai ficando dependente,
desenvolve a necessidade de obter o efeito mais rápido e poderoso
do álcool. Quanto mais valoriza o efeito farmacológico do
álcool, mais se aproxima do espectro da dependência. Saborear
um vinho vira coisa sem significado, porque a bebida deixa de ser uma
das inúmeras fontes de prazer e se torna uma necessidade.
Qual a diferença fundamental entre o padrão de consumo
do bebedor ocasional e o padrão daquele com risco de desenvolver
alcoolismo?
O bebedor ocasional de alguma forma limita muito bem as situações
em que vai beber. É a pessoa que bebe durante o jantar num dia,
mas passa outros em tranquila abstinência. Além disso, tem
um repertório amplo e diversificado de atividades que lhe proporciona
prazer. Ela corre, lê, vê televisão, vai ao cinema,
faz esporte, etc.
Nas pessoas que tendem a desenvolver dependência, esse repertório
de prazer vai-se restringindo progressivamente até que o álcool
(ou qualquer outra droga) se transforma em sua principal fonte de prazer.
São pessoas, por exemplo, que não conseguem imaginar uma
festa sem álcool. Na realidade, a festa deveria representar a oportunidade
de encontrar amigos, usufruir ambiente agradável e o álcool
ser apenas um detalhe a mais dentro desse contexto, mas para elas é
o único prazer. Elas podem até deixar de ir à festa
para ficar bebendo com um grupo de companheiros e não concebem
um final de semana sem estarem chapadas. Torna-se predominante esse tipo
de padrão de consumo que busca o prazer poderoso e fácil
que a substância produz, e perde a importância o prazer de
usar o álcool dentro de certo ritual contemporâneo socialmente
aceito.
Essa grande diferença começa a provocar um empobrecimento
na vida das pessoas que acabam desconsiderando todas as fontes ricas de
prazer do dia a dia e apenas valorizam o efeito obtido por meio de uma
substância química, no caso, o álcool.
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