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Consumo
de álcool por adolescentes cresce e inspira serviço médico
especial No Albert Einstein, todos os pacientes com 16 anos ou menos e que dão entrada pelo pronto-socorro são encaminhados à pediatria que, a partir deste mês, tem um protocolo especial de atendimento. Os cuidados não são apenas clínicos. Os pais são orientados sobre os riscos do consumo de álcool na adolescência. Nos casos mais graves, em que o jovem fica internado ou precisa de recursos de UTI, ele obrigatoriamente é avaliado por psiquiatras e psicólogos do Núcleo de Álcool e Drogas do hospital. - Os pediatras perceberam que se tornou comum o atendimento a pacientes alcoolizados em idade muito precoce, com 13 ou 14 anos. Há casos de crianças de 12 anos. Eles chegam com intoxicação grave causada pela ingestão de álcool. Isso nos preocupa muito. É preciso detectar o que está acontecendo - afirma a psiquiatra Alessandra Maria Julião, do Núcleo de Álcool de Drogas do hospital. O problema é reflexo do que acontece nas ruas. Baladas atraem jovens da classe A e B, com festas em que a bebida alcoólica é o chamariz. Sempre em grupo, eles são influenciados pelos amigos a deixar o refrigerante de lado e consumir o álcool já incluído no preço. Há
15 dias, X., de 16 anos, foi a uma boate com amigos. Depois de ir ao banheiro,
retornou à pista e, ao ver um rapaz de costas, avançou sobre
ele, desferindo-lhe socos na cabeça. Os amigos do rapaz agredido
passaram a bater em X., e os amigos de X. entraram na briga. Na semana
passada, X. foi levado pelos pais ao consultório do psiquiatra
Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química,
professor da USP e presidente do Centro de Informação Sobre
Saúde e Álcool (Cisa). O médico perguntou o que tinha
acontecido. O especialista não identificou qualquer distúrbio grave no adolescente. O que lhe chamou a atenção foi que, naquela noite, X. havia ingerido muitas latinhas de cerveja. Para ele, o rapaz se encaixa no "padrão binge”, caracterizado pelo consumo excessivo em curto espaço de tempo: cinco doses - ou cinco latinhas, considerando idade e peso - num período de duas horas. Para as mulheres, o “binge” ocorre antes, a partir de quatro doses. Todos são
unânimes em afirmar que, nas baladas, há bebida alcoólica
de sobra, a despeito das proibições previstas em lei. O psiquiatra
afirma que nenhum adolescente procura ajuda médica por causa do
álcool. Em geral, vão ao consultório levados pelos
pais, para tratar de outro problema associado, como depressão,
ansiedade ou síndrome do pânico. Na adolescência,
os neurônios se multiplicam. Segundo Andrade, exposto ao álcool,
o cérebro vai amadurecer de forma menos eficiente. O raciocínio
na fase adulta não será tão rápido: A psicóloga
Ilana Pinsky, vice-presidente da Associação Brasileira de
Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), diz que no Brasil as
bebida alcoólicas são baratas, e facilmente encontráveis.
Os pais, por sua vez, não se sentem à vontade para proibir
os filhos de consumi-las: No debate sobre o consumo de álcool na adolescência, tem chamado a atenção de Ilana o comportamento das meninas. Enquanto na fase adulta as mulheres bebem menos do que os homens, na adolescência, atualmente, elas estão consumindo o mesmo número de doses. - É
impressionante como elas bebem loucamente! Vão ao consultório
por outros problemas, como ansiedade, mas, quando a gente conversa, percebe
a questão do álcool - conta Ilana. De acordo
com a psicóloga, o consumo é mais alto entre os adolescentes
de maior poder aquisitivo e a frequência varia de duas a três
vezes por semana. Antes da balada, eles costumam ainda fazer o “esquenta”: Para os rapazes, o consumo de álcool representa risco de envolvimento em episódios violentos, de brigas a acidentes de trânsito. As meninas, segundo Ilana, ficam “menos seletivas” para escolher com quem “ficar” e fazer sexo. - Elas dizem que ficam com quem não ficariam se não estivessem bêbadas - conta. Ela reconhece que o problema do álcool na adolescência é difícil, até porque os pais costumam não admitir que ele existe. A maioria, porém, entra em pânico quando o adolescente aparece com um “baseado”. |
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